Mãos para o alto
Diário do Norte
Texto Gustavo Sobral | ilustração Arthur Seabra
O táxi o levará para o Mercado do Ver o Peso, no porto. É mercado do peixe, se adverte. E saiba logo, é Brasil. Não vacile que pode ser roubado em plena luz do dia, insegurança está entre os atrativos. Você verá um assalto ao vivo.
Descemos no meio da feira das frutas, uma beleza de tipos e o primeiro que se ouviu foi o grito: pega ladrão! Pega! A meio metro a moça teve a corrente do pescoço levada pelo meliante que passou correndo por nós, em fuga, os pés batiam na bunda, como se diz, uma carreira só. E pra onde ele corria, acompanha o grito, é ladrão, pega ladrão.
E tudo perde logo a graça naquele susto. O movimento seguinte foi infelizmente tomar um táxi de volta. Viver perigosamente continua um perigo. Mas, la nave va, a vida continua e lá vamos nós conhecer mais Belém.
Pule também na Basílica, uma visitinhas por mais rápido que seja, vale a pena demais. A Basílica de Nossa Senhora de Nazaré é datada de 1909. Ali é onde chega a Imagem Peregrina durante o Círio de Nazaré (detalhe, é considerada a maior manifestação religiosa católica do Brasil quiçá do mundo, celebrado no segundo domingo de outubro). A Basílica linda, e dizer isso não resume os tantos detalhes da arquitetura que desenham a nave, o altar, as alas laterais, e mais que toda beleza se complete com a fé.
A igreja se faz de fé, os fiéis oram, se ajoelham, os hinos de louvor sobem ao infinito, alçam os céus com certeza com o louvor e a devoção que ela abriga, tornando-a assim uma relíquia, o encanto. Fé que desce as escadas e acompanha os fiéis aonde quer que vão. O turista não terá outra crença que não essa quando vê e sente. Visite mesmo, vale a pena.
O taxista adverte: não é bom andar ali e nem a pé, a onda de assaltos anda uma onda. E também o sol é de rachar. Aqui é clima único: quente e pronto, é o taxista avisa: vai começar agora a temporada da quentura. E no mercado é isso mesmo: é doido, é ladrão. Não custa acreditar. Pelo caminho, passam os edifícios que revelem a arquitetura antiga e bem cuidada. Museus e parques são presença na cidade.
Há muito o que ver e viver em Belém. E não se preocupe: vai chover um dia. Chove todos os dias em Belém. E não é aquela chuvinha trivial, é chuvona pesada e duradoura. É cada pingo deste tamanho. Se não chover durante o dia, espere à noite. Ela sempre virá. E quando a noite cai, por favor, não perca de ir à Estação das Docas. Lá são restaurantes, bares, sorveterias, lojinhas de artesanato tudo com vista e na beira rio. As antigas docas revitalizadas como espaço de lazer. Sabe aquela cerveja do almoço? Tem lá que é a fábrica.
Não deixe de levar pra casa a geleia de cupuaçu, vai chover pedidos antecipados de quem não veio, portanto se antecipe pois de tão procurada cabe o adágio do tem mas está faltando. O sabor é doce com um azedinho final, bem característico da fruta que entra na composição de sorvetes, doces, bolos, bebidas e até geleia como se vê. É uma coringa na cozinha e em mãos habilidosas faz estes estragos de se regalar.
Chocolate com cupuaçu e chocolate com açaí também são boa pedida. E os sorvetes? Sonhe, pode sonhar que não tem só fama, tem muito gosto. Em Belém se come e bebe bem da entrada a saída com a sobremesa, e viva a isso. O turismo relâmpago de uma tarde e duas noites deixa muita coisa pra ver e por fazer. O que falta fica no sonho de um dia voltar. E não deixe de ver o que eu não vi.