texto Gustavo Sobral e ilustração de Arthur Seabra

Casa dos discursos, saudações, autores e livros. Governa a sua república a figura de um presidente a quem o auxiliam secretários incumbidos das mais diversas funções burocráticas descritas e apalavradas nos estatutos fundamentados. Segue o modelo da brasileira, também assim exposta em palacete, modelo tirado da francesa, e que se multiplica em academias de letras estaduais. Inauguração com festa e posse em 1936.

Vinte e cinco cadeiras apenas, a que foram se juntando outras, até chegar ao número de quarenta. Conta a história que Câmara Cascudo arregimentou os intelectuais amigos para a fundação da casa potiguar. A Federação das Academias de Letras lhe fizera o pedido, e assim atendera. O edifício só apareceu completamente pronto em 1976, depois de doze anos de obras e serviços. Uma verdadeira construção de obra literária.

A ideia que se tem é que ali a hora é marcada para o chá com torradas. Em forma de livro, suas colunas, cobertura e base têm dobras. Desenhada em lombadas, como se erguida fosse de pesados e robustos livros de concreto, tijolo, massa e tinta. Algumas janelas aqui e acolá, uma porta central convidativa. No térreo, biblioteca e auditório.

Uma escada em tapete vermelho leva ao grande salão nobre das sessões e honrarias, onde, em dia de saudação e posse, quarenta imortais potiguares, de fardão e medalhão, agregados e visitantes, nas cadeiras de alto espaldar e ar solene, recebem a brisa que corre pelas tardes de Petrópolis, Natal/RN, bairro em que se situa, na rua de paralelepípedos, Mipibu, 443.

Os patronos conservam os olhos vigilantes emoldurados em retratos perfilados no comprido da parede. Gerações e gerações imortalizadas na palavra da literatura, ensaio, pesquisa, nas letras do Rio Grande do Norte, construídas e mantidas nas páginas de suas obras e nas dobras de cimento da academia das letras potiguares assinalada.