Marina Colassanti, classificados nem tanto

texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Suas lembranças viraram um dos muitos livros que escreveu. É poeta, ficcionista, uma contadora de histórias. Sua literatura é também infantil. O nome dela é Marina Colasanti. Nasceu na África, mas é italiana de infância e de pai e mãe. Foi menina numa Europa em guerra e, apesar disso, foi feliz e foi menina. Chegou ao Brasil ainda pequena e foi morar com a tia e o marido brasileiro da tia que era dono do palacete onde hoje é o Parque Guinle, no Rio de Janeiro.  Quando foi casar, casou com um dos seus pares, o também escritor de nome Afonso Romano Santana, que é assim como ela.

Um dia, atrevida, disse que para escrever contos de fadas era preciso um castelo. E uma conhecida que tinha um castelo ofereceu a ela e a Afonso. E foram os dois fazer literatura. Décima entrevista da série entrevistas imaginadas, quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já disseram. Entrevistamos a escritora num espaço de tudo, o jornal, que tomou para si e fez um livro de classificados (e nem tanto!) e com este mesmo nome Classificados e Nem tanto.

Entrevistador: Marina, nos classificados o que anuncia a bicicleta?

Marina Colasanti: Que procura seu dono ciclista perdido algum dia fora da pista.

E: E o que nos classificados venderia em leilão?

MC: o pouco que resta do meu coração.

E: O que anda oferecendo a quem queira?

MC: um gato sem eira nem beira.

E: O que anunciaria uma tartaruga?

MC: que busca creme contra ruga!

E: É verdade que o continente é uma ilha?

MC: um continente é uma ilha em tamanho família.

E: A agulha, o que procura?

MC: sem linha em tecido procura a costura que lhe dê sentido.

E: Em papo de bandagem…

MC: a múmia leva vantagem!

E: Pra não fazer nem de brincadeira…

MC: falar a queima-roupa com a passadeira!

E: E o que seria um círculo?

MC: um quadrado bem esticado.

E: A vaca, o que rumina?

MC: verdadeira usina que recicla o que come, a vaca rumina a sua própria fome.

E: Como uma pessoa revela os seus modos?

MC: com o dedo no nariz dos seus modos você diz.

E: Nos classificados quem pede para ser adotado?

MC: um pensamento rejeitado!

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Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br