Este curto relato é resultado de uma passagem pelo Tocantins, entre 31 de março e 05 de abril de 2024.

O rio Tocantins ensina o caminho, a estrada é margem. Alcançar a região do Bico do Papagaio, divisa do Tocantins, Maranhão, Pará, é seguir, partindo de Palmas, pelo caminho dos guerrilheiros do Araguaia.

Toma-se a Belém-Brasília no trajeto de ida e volta e um trecho da Transamazônica, na porta da reserva indígena Apinajé. Caminhão, caminhão, caminhão. O trafego é intenso na única via que corta o Estado, cercada de mata por todos os lados.

Placas nomeiam o caminho, o viajante anota alguns dos lugares: Brasilândia, Colinas do Tocantins, Nova Olinda, Araguaína, Wanderlândia, Angico e Ananás, Luzinópolis, Axixá, Augustinópolis.

O conhecimento dos sabores da terra vai aparecendo no trajeto. É cajuí,  o caju do serrado; pequi, babaçu, murici, bacuri e banana cajá, o arroz com azeite do coco do babaçu. O cupuaçu só nasce se plantar de dois. Tudo ensina Ivaneizília, professora das coisas do Tocantins.

Uma palhoça na beira da estrada, destas que vendem de um todo, até cofo, cupuaçu, farinha de puba, e mais um tanto de coisa, vira sala de aula. A professora aponta, fazendo notar cada coisa que se apresenta do lugar. O viajante escuta, fotografa e desenha pelo olhar do encanto.

O fim de tarde por lá desponta no horizonte num tom rosáceo que migra para um laranja intenso. O céu brinca de aquarela. A noite aos poucos vai escondendo a mata. Já o amanhecer é a mata que canta em pássaros e cigarras. A chuva faz barulho de chuveiro sobre a vegetação impassível no seu exercício de paisagem imóvel. O céu se pinta de cinza, azul. O dia se faz por merecer.

Tudo poderia não passar de um sonho quando mais uma vez Palmas nas suas rotundas imprime a circularidade da vida. Sempre se vai para voltar. Na despedida de Palmas, duas araras azuis em trânsito, diz o motorista que, pela manhã, elas seguem o sentido do rio. E lá vão elas.