O dia que passei por uma Blitz

Uma noite nem sempre pode terminar como deveria

Acidente. Só poderia ser um acidente. Carros parados, uma van do governo, a polícia. Não há volta ou desvio. Ao motorista, só resta parar; e, ao guarda, solicitar os documentos necessários e o teste do bafômetro. O cidadão mal pensa e ouve, por trás do guarda, era a indignação na voz de uma moça: não sopre, não sopre, você não é obrigado a produzir provas contra si mesmo, eu sou advogada, eu sei! O guarda suspira. Outros carros virão. Ela repetirá a sua orientação ao infinito. Entregue os documentos, o condutor deve aguardar o procedimento. Aí surgem os serviços essenciais: por alguns reais, um rapaz se oferece para ser o condutor do veículo e outro que se diz advogado presta as primeiras orientações oferecendo seus préstimos para a defesa. Distribui até cartão. Aí, você olha ao redor. Há uma legião de parados na Blitz e amigos e familiares de parados numa Blitz. A Blitz é um grande encontro. Como a equipe é reduzida, a conta da espera vai dos minutos para as horas e horas. Cadeiras de plástico na calçada servem a idosos, inválidos, grupo preferencial e as senhoras. Se se enquadra em alguma destas situações, e houver vaga, aguardará sentado.  As pessoas passam a dividir as suas histórias. Por que você está aqui? A amiga da minha filha, coitada, muitos problemas em casa, saíram para tomar um drinque e desabafar, terminaram aqui. Meu filho, diz outro, vinha da casa do sogro e aí como tentou escapar o veículo está apreendido e como moro aqui perto, ele me ligou. Vamos resolver aqui e vou leva-lo para casa. A noite correrá, a madrugada chegará e a dinâmica oferecerá chegadas e partidas, pois a vida de um sábado à noite também acontece no eterno movimento de uma Blitz. E já passa da meia noite. Pós-escrito: Não houve sopro do bafômetro. Eu não era o motorista, era o passageiro que havia tomado vinho no jantar. E me aboletaram numa cadeira, “tragam ai uma cadeira para o rapaz da bengala”. E fiquei assistindo a cena da vida.

Para ler este e outros acontecimentos, acesse: gustavosobral.com.br

Compartilhe Essa História:

Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br