Pablo Neruda, Cuántas, cómo, és porque…
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Resolveu escrever suas memórias e tascou no título, “Confesso que vivi”. E são muitas as confissões de um poeta ativista, vivo na esperança de futuro no amanhã. Era do tempo em que se tinha uma ideologia para viver. Foi comunista, como muita gente. Poeta do século XX, dono de um prêmio Nobel (1971) e autor de muita e tanta poesia. Neruda é poeta do amor, e graças que o amor não caiu em desuso, como também não caíram as baladas de Neruda.
Segunda entrevista da série entrevistas imaginadas, quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já disseram. O entrevistado da vez, como se disse, é poeta, é chileno. O curioso é que quando fomos perguntar, tivemos de responder, porque Neruda é o poeta das perguntas…. (fomos entrevistados pelo poeta, em seu Livro das Perguntas, perguntas tomadas a esmo). Imperioso é ler Neruda!
Neruda: Si se termina El amarillo com qué vamos a hacer El pan?
Entrevistador: poeta, sabe-se lá, é preciso muita poesia para saber como se há de fazer um dia o pão, mas o pão de sua poesia havemos de fazer com palavras.
Neruda: Hay algo más triste en el mundo que un tren inmóvel en la lluvia?
Entrevistador: Se houver, poeta, são os corações pesados de tanto pesar, não imóveis, mas apáticos, também banhados de chuva, mas de chuva de lágrimas.
Neruda: Cuántas Iglesias tiene el cielo?
Entrevistador: quantas forem os deuses, quantos forem os santos, quantos forem os mortos, cada existência será um templo.
Neruda: Cuántas abejas tiene el dia?
Entrevistador: quantas forem necessárias para tecer o mel da vida.
Neruda: Cómo se mide la espuma que resbala de la cerveza?
Entrevistador: numa noite perdida, solto na vida.
Neruda: Cómo se llama ese cocktail que mezcla vodka com relâmpagos?
Entrevistador: chama-se se permitir.
Neruda: Cómo logro su libertad la bicicleta abandonada?
Entrevistador: quando reencontrou o seu ciclista, poeta.
Neruda: Nos es mejor nunca que tarde?
Entrevistador: decerto, poeta, porque o nunca nunca chegará, enquanto o tarde haverá um dia.
Neruda: Puedo perguntar a mi libro si es verdad que yo lo escribí?
Entrevistador: responderá que sim, poeta, mas não esqueça: um livro pronto e acabado pertence ao mundo.
Neruda: Cuántas semanas tiene un dia y cuántos años tiene um mes?
Entrevistador: para quem ama, segundos; para quem sofre, mil anos.
Neruda: Es porque tiene que morir o porque tiene que seguir?
Entrevistador: porque a vida foi, é e será.
Neruda: A quién le puedo perguntar qué vine a hacer em este mundo?
Entrevistador: aos seus versos poeta, cada poesia é um gesto.
Neruda: Hay algo más tonto em la vida que llamarse Pablo Neruda?
Entrevistador: há sim, poeta: não se chamar Pablo Neruda.