Para ver, exposição de Elisa Almeida

A ideia era que fossem os bordados, ela borda, mas ela ainda acha que não tem uma quantidade suficiente para expor. A curadora tornou a insistir e a persistir, e ela: então tá; e resolveu revisitar os cadernos e mais cadernos e expor seus desenhos, é que ela desenha desenhos bem pequeninhos, nos cadernos que ela guarda numa bolsa pequena, que inclusive, está lá desenhada na mostra, juntamente com os lápis, juntamente com um cabideiro, com a vista das janelas, a sua forma de ver o mundo, os lugares, as pessoas, o corpo, os gatos e as coisas.

É assim que se chega ao universo dos desenhos de Elisa Almeida, encontrando um pouco para fora o que ela olha para dentro e para fora, tudo matéria da vida, dos pequenos cadernos, do nanquim e da aquarela, que ela conta, quando descobriu mudaram tudo, porque, parece que os desenhos começaram a nascer por si próprios. São pistas de um percurso que ela escolheu, ampliou, reuniu, e, embaralhando o tempo, traçou uma cartografia.

Há cenas em perfil, closes de cinema em Olhos, Boca, Pernas, Rosto, e ela conta a origem, nasceram de um exercício online, modelos vivos, durante a Pandemia, e foram mesmo parar no cinema. Há um tédio declarado em vestido, salto e batom vermelho. Mascaras, Ursas, Pernas, Brancas e até Duas.

Há também a praia, sem a qual, parece que ela não vive, cenas que, conta ela, surgem quando a gente para para ver. É que parece que a gente só vê também o dentro quando tem tempo de olhar para fora. O coqueiro verde, o pilar, uns pés e uma réstia de rede nascem no verão, numa perspectiva da rede. O colorido é lindo. As proporções ampliam na forma o sentimento, quando a gente vê, entre outros, Caparica na praia.

Autorretratos, três, estão lá: Semi-cego, Espelho e Mão. Semi-cego, de vestido e olhos foi o escolhido para acompanhar este texto. Frases, pequenas pensatas, ora aparecem grafadas como a preencher a cena, trazendo coisas que a gente nem se dá conta, como em Mão, “a mão direita pela mão esquerda”, pois a artista que vê, não é apenas olhos, é também esta mão que desenha e está ali.

A exposição é como uma visita a casa da artista, um encontro, uma ida à praia, é vestir os olhos de Elisa Almeida para ver o mundo, e como todo mundo, e tem uma turma lá, em pequenos retratos, quadradinhos de gente com fones, como se estivessem numa live, todos juntos; inclusive, há um retrato da curadora, máscara e óculos escuros, mas que quem conhece, mesmo mascarada logo a reconhece. É Mariana? É!

Elisa Almeida capta nas pessoas, nos lugares, nas coisas, o que há de mais profundo, um sentimento de quem olha, vê e repara. O mais é visitar a exposição e folhear aqui catálogo de vendas, pois o essencial é ver com os próprios olhos.

Exposição: Olhar pra dentro, olho ora fora. Elisa Almeida.

Mahalila Café e Livros.

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Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br