Para que serve o jornalismo?

Artigo orginalmente publicado no Observatório da Imprensa, edição 1359, 09 de outubro de 2025

Imagem: Divulgação/Arquivo pessoal

 

Produzir livros curtos para explicar e apresentar diferentes aspectos do tópico em discussão. Não é outra a pretensão da Bristol University Press, editora da Universidade de Bristol, no Reino Unido, com a série de livros What is It For?, na qual figuram, entre outros, a história, o museu, o veganismo, a filantropia, as prisões e, por que não, o jornalismo.

A resposta nada óbvia a essa questão pode ser o que provoca a existência desse livro, mas que não é simplesmente o seu objetivo respondê-la. Pelo contrário, é apresentar o tema. Nesse caso, o jornalismo e as suas nuances. What Is Journalism For? (2025, 180p.) se faz assim um passeio breve, superficial, interessante e necessário sobre o jornalismo.

O autor é o jornalista londrino Jon Allsop, que escreve sobre mídia para a Columbia Journalism Review; e o livro é um ensaio em seis capítulos (introdução, democracia, julgamento, crítica, comunidade, além disso) elaborado a partir de pesquisa histórica, bibliográfica, a sua própria experiência e conversas com jornalistas de Mianmar, Estados Unidos e Reino Unido.

A democracia é o ponto de partida, pois é ela que assegura a liberdade de expressão para que o jornalismo aconteça. Um não existe sem o outro. Já o exercício do jornalismo se faz a partir do julgamento, do exercício crítico e do senso de comunidade, levado por decisões subjetivas: quais histórias cobrir, com que intensidade, a quais fontes deve recorrer, quais informações destacar e quais minimizar. E não está isento.

Assegura a sua independência a transparência e os princípios que o regem: mente aberta, humildade, rigor, honestidade intelectual e visão crítica. Tudo isso é parte do que Allsop chama de julgamento. Julgamento é o que separa o jornalismo da mera repetição de informações. Jornalismo é também pensar com senso crítico. E não se faz sozinho.

O que o protege da falibilidade é o fato de ser uma atividade compartilhada. É a comunidade crítica que o cerca e da qual depende, as fontes, os editores, os colegas e os consumidores de notícia. É esta trinca que o torna potente.

Incansavelmente crítico, cabe ao jornalismo avaliar, investigar e aprofundar uma ideia, sobretudo na era da desinformação. Cada vez mais essencial, cresce quando formado por um grupo heterogêneo, pois é a um grupo heterogêneo que deve servir.

Até uma revista sobre banheiros públicos pode ter o seu público e o seu propósito: “Uma vez escrevi um perfil de uma publicação francesa chamada Flush, que nasceu de um blog que classificava a limpeza de banheiros públicos e se transformou em uma revista sofisticada que usava os banheiros como forma de examinar grandes questões sociais (enquanto também oferecia espaço publicitário à indústria de banheiros)”.

Inclusivo e disponível a todos, o jornalismo deve ser comunitário. Deve atender à população de uma cidade, comunidades étnicas e de identidade etc., para garantir que o ecossistema midiático seja pluralista e contemple uma ampla diversidade de perspectivas sem que uma única visão predomine.

O papel do jornalismo é fornecer às pessoas informações básicas e práticas que lhes permitam conduzir suas vidas cotidianas.  O jornalismo é uma espécie de biblioteca, um “banco compartilhado de conhecimento e pensamento” a que qualquer pessoa deveria ter acesso, pois, acredita Allsop, o acesso a esse acervo permite que as pessoas tomem decisões com base em informações confiáveis que estão ao seu dispor. É para isso que o jornalismo serve.

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Gustavo Sobral é jornalista e mestre em Estudos da Mídia (UFRN). É também bacharel em Direito e, atualmente, graduando do curso de História (UFRN).

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Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br