O Sertão de Lamartine
Matéria publicada no jornal Tribuna do Norte, Viver, terça-feira, 21 de outubro de 2025
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do RN trará conjunto inédito de manuscritos
O romance “Memorial de Maria Moura”, clássico da escritora Rachel de Queiroz, tem uma pouco conhecida ligação com o mestre sertanólogo potiguar Oswaldo Lamartine de Faria (1919-2007). Essa história será contada pelo jornalista e escritor Gustavo Sobral na nova edição da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do RN (IGHRN), que será lançada dia 23 (quinta), às 17h. O texto trará à luz um conjunto inédito de manuscritos e desenhos de Lamartine, resultado direto de uma pesquisa conduzida por Sobral.
O material, até então guardado pela família, foi entregue ao jornalista por Murilo Paiva, sobrinho de Lamartine, em 2022. Posteriormente foi levado ao IHGRN por iniciativa de Sobral, que criou uma comissão para analisar e estudar os documentos. A descoberta, que inclui esboços, anotações e desenhos de próprio punho por Lamartine, permitiu a Sobral reconstruir uma parte pouco conhecida da trajetória do autor potiguar.
Oswaldo Lamartine colaborou, como consultor, na criação do romance “Memorial de Maria Moura”, de Rachel de Queiroz. O resultado dessa investigação é apresentado no ensaio “Uma geografia para Maria Moura”, escritor por Gustavo Sobral. Nos papéis resgatados, Lamartine não apenas escreve, mas também desenha o sertão, compondo uma geografia imaginada que dialoga com sua escrita minuciosa sobre o território potiguar.
O ensaio de Sobral demonstra como Lamartine articulava texto e imagem como instrumentos de conhecimento e criação literária. Para o autor, trazer esse material a público é revelar mais uma camada do profundo conhecimento de Lamartine sobre os assuntos do sertão. “Se antes apenas Rachel de Queiroz teve acesso, agora todos nós podemos conhecer pelas anotações e desenhos de Oswaldo, aspectos da casa do sertanejo e suas coisas, brinquedos, cercas, sepultamento, indumentária, etc., é mais um mundo de coisas sobre o sertão”, diz.
A publicação desse material inédito, segundo Gustavo Sobral, representa também um gesto exemplar de preservação. “Vamos folhear as mesmas páginas que Oswaldo e Rachel passaram as vistas, com os riscos, e a forma da letra e as explicações dele. É ter nas próprias mãos, na revista, toda a engenharia que ele criou para que o romance de Rachel de Queiroz pudesse acontecer. É fantástico”, afirma.
Gustavo Sobral é autor de dois estudos sobre a obra de Oswaldo Lamartine, e esteve sempre em contato com instituições literárias e arquivos nacionais, como o Instituto Moreira Salles, onde se encontram parte dos documentos de Rachel de Queiroz, para compreender a dimensão dessa interlocução entre os dois escritores.
Além disso, observando a importância do desenho na obra do autor, Sobral, editor da revista, convidou a pesquisadora Angela Almeida, autora de diversos trabalhos originais sobre artes visuais, a apresentar um estudo sobre um aspecto até então inexplorado da produção lamartiniana: o desenho.
A nova edição ainda vai apresentar textos de Mara Macêdo sobre Lamartine e o cordel; Rogério Bivar sobre o cavalo; Kamisson Azevedo e Thiago Freire sobre as ruínas do litoral potiguar; Ormuz Barbalho Simonetti sobre a jangada; e Octávio Santiago escrevendo sobre o Memorial da Assembleia Legislativa, entre outros escritos.
Serviço:
Lançamento da Revista 103 do IHGRN. Dia 23 (quinta), às 17h, na sede do instituto, Cidade Alta.
Compartilhe Essa História:




