Entrevista com o editor do livro Historiadores do Rio Grande do Norte

Historiador e editor, Francisco Isaac Dantas de Oliveira está à frente da Biblioteca Ocidente, Casa Editorial Araujooliveira, selo criado em 2020 para democratizar a publicação em Ciências Humanas. A editora já lançou diversas obras e agora apresenta Historiadores do Rio Grande do Norte, primeiro livro do gênero no estado, que reúne perfis de historiadores potiguares dos séculos XIX e XX.

Na entrevista a seguir, Francisco Isaac fala sobre a relevância e o ineditismo da obra.

 

Poderia nos dizer de que trata o livro Historiadores do Rio Grande do Norte?

Francisco Isaac Dantas de Oliveira: o livro é uma compilação de perfis biográficos sobre a vida e produção intelectual dos historiadores do passado. Cada perfil/capítulo foi escrito por um historiador(a) de destaque em nossa historiografia contemporânea.

Temos nesse livro 27 perfis que compreendem um longo período histórico (séculos XIX e XX), e cada história revisitada pelos 21 autores desvendam trajetórias de vidas interessantíssimas, histórias no âmbito público ou privado que descortinam por tabela uma paisagem natalense e potiguar que o novo público poderá conhecer, nesse sentido, o livro trata de histórias no plural.

 

É uma obra relevante para a bibliografia do Rio Grande do Norte? Por quê?

Francisco Isaac Dantas de Oliveira: É sim relevante para nossa historiografia/bibliografia, ele cumpre o papel de informar e de jogar luz sobre personagens que atualmente não são conhecidos do grande público.

Nem mesmo da maioria dos historiadores e historiadoras que são formados pelas instituições de ensino, o livro Historiadores do Rio Grande do Norte vem assumir o lugar de dar subsídios históricos sobre essas personalidades/intelectuais do nosso passado.

Eu creio que futuros pesquisadores irão encontrar nessa obra um texto de referência pelo menos inicial, um ponta pé importante que mostram os caminhos, aponta referências. Fazer história intelectual após Historiadores do Rio Grande do Norte ficou mais fácil com a iniciativa de André, Gustavo e Honório.

 

Você considera que o livro ajuda a preencher uma lacuna na memória intelectual do estado? Em que medida ele preserva e valoriza a trajetória dos historiadores mencionados?

Francisco Isaac Dantas de Oliveira: iniciativas como essa já foram feitas no centro midiático e cultural brasileiro como em São Paulo-Rio de Janeiro e no Sul do Brasil. Creio que Historiadores do Rio Grande do Norte seja a primeira empreitada editorial aqui no RN. Trazer esses perfis para o debate atual é sim pioneiro em nossa historiografia.

Não tenho dúvidas que essa obra cumpre um papel de resgatar nomes e vidas de historiadores, e isso preenche sim a lacuna em nossa memória coletiva. Esse livro será uma poderosa ferramenta, como um manual sobre vida de cada historiador, sobre os contextos e os tempos vividos aqui em nosso pequeno Estado.

Outro fator importante que posso destacar é a preservação e manutenção memorística das 27 personalidades descritas no livro, eles foram pioneiros, escritores que precisam ser revisitados e discutidos em nosso tempo – para o bem ou para o mal – não é só para jogar confetes e coroar com folhas de louros, mas fazer a crítica quando for pertinente, fazer jus ou corrigir eventuais deslizes, a história é feita disso, e os autores dos capítulos aceitaram o desafio e fizeram suas análises muito bem fundamentadas.

 

A obra é apresentada como a primeira do gênero no Rio Grande do Norte. O que isso revela sobre a necessidade de iniciativas voltadas para registrar a história da própria historiografia potiguar?

Francisco Isaac Dantas de Oliveira: Historiadores do Rio Grande do Norte é de fato um livro pioneiro, ele abre inúmeros caminhos para discutirmos nosso passado. Nesse sentido, a iniciativa de coligir pesquisadores em torno de um projeto de investigação em nome de nossa história local é inovador.

Esse movimento mostrou que tínhamos uma carência de saber quem foram os homens que se dedicaram à escrita histórica, esses estavam inseridos numa Instituição como o IHGRN, que entre o século XIX e o XX era o principal palco de discussão de nossa história.

Então, o livro é um registro saudável e importante para a nossa escrita, ele dá nome e sobrenome a esses homens que construíram nosso passado a partir das letras. O livro é um constructo interessante e necessário para manutenção da nossa identidade potiguar, ele é uma bela prova que temos História com H maiúsculo.

 

O livro resulta de uma rede de colaboradores, entre pesquisadores, professores, escritores, estudantes e historiadores. Como essa construção coletiva fortalece o caráter inédito e plural da obra?

Francisco Isaac Dantas de Oliveira: fazer uma obra coletiva e tão complexa como Historiadores do Rio Grande do Norte não é uma tarefa fácil, e aqui quero parabenizar os organizadores pela bela orquestração dessa pluralidade. A riqueza de olhares e a diversidade de abordagens é o ouro dessa obra editorial.

Dar oportunidade aos historiadores e historiadoras atuais para escreverem as biografias e dar a liberdade de escrita é o caráter mais valioso e forte desse livro. Administrar as múltiplas interpretações que o livro traz é o que salta aos olhos, dar liberdade é muito importante atualmente onde estamos vendo as grandes democracias ocidentais ruírem aos poucos, ver um grupo de historiadores(as) escrevendo sobre intelectuais do passado e exercendo sua escrita é algo muito bonito de ver. Esse movimento independente e plural é muito saudável para a construção da história coletiva potiguar.

 

Como a diversidade de abordagens contribui para a compreensão mais ampla dos historiadores retratados?

Francisco Isaac Dantas de Oliveira: o tempo é fundamental para se fazer uma abordagem historiográfica independente e isenta. A diversidade que os leitores irão encontrar aqui é o grande trunfo dessa história. Historiadores do Rio Grande do Norte amplia a nossa compreensão do tempo, do espaço e dos protagonistas e intelectuais potiguares, essa é a grande contribuição desse livro, foi a partir das múltiplas interpretações e jeitos de escrever e perceber o passado que o livro foi construído, pensado e editado, e que agora pode ser lido, agraciado e/ou criticado pelos leitores, pois essa não é uma obra definitiva, mas sim, uma obra em constante construção coletiva, e isso inclui a última ponta que são os leitores, contamos com vocês para futuras construções históricas.

 

Historiadores do Rio Grande do Norte

O livro está disponível para download gratuito no site da Editora Biblioteca Ocidente, https://revistagalo.com.br/selo-bo/, e também em gustavosobral.com.br. Para quem desejar adquirir a versão impressa, o título pode ser encontrado na loja virtual da UICLAP (www.uiclap.com.br).

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Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br