A casa velha da ponte de Cora Coralina
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Casa da poeta Cora Coralina às margens do Rio Vermelho.
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas fazia doces. E como ninguém. Doces cristalizados. Antes vendeu livros, viu revoluções, partiu de Goiás, voltou a Goiás. Viveu intensamente a vida e começou na audácia de fugir, em 1911, com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, seu marido. Casou, teve seis filhos, enviuvou e virou Cora Coralina. Ganhou vida modesta e simples, observando o tempo que passava da casa nas águas do córrego e as pedras.
Em 1965, setenta e cinco anos, um sorriso doce e a publicação do primeiro livro. Carlos Drummond de Andrade festejou. De lá para cá a poeta goiana ganhou Honoris Causa da Universidade de Goiás e prêmio da União Brasileira de escritores e escreveu poesia, contos e livro infantil.
A casa da ponte sempre foi dela mesma, desenhada sobre o Rio Vermelho, do tempo ainda dos pais, os primeiros proprietários. Rua Cândido Tenso, número 20, Centro, Goiás. Hoje, museu Cora Coralina. Os papéis antigos registram ser do século XVIII. Cumeeiras, frechais, empenas, de barro goiano, argila que fez indestrutível a casa velha, como contou a poeta. Casa sempre aberta, costume de Goiás, luz do sol que entra pelas frestas das janelas, rua de pedra. Colonial brasileira, fabricada de pau a pique e adobe.
Passa a ponte, já se está na casa, que tem porta e janela para a rua. Uma casa simples, formando a paisagem da antiga Vila Boa de Goiás, de onde escrevia o seu tempo, o passado, e olhando o mundo presente pela casa velha.
Drummond: “admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia”. E assim Cora seguiu cristalizando seus doces e narrando com a sua poesia o passado, as lembranças, a vida simples e as coisas que passavam pela velha casa da ponte.