Aquarentanas de Celina Bezerra
Até hoje são importantes os relatos que ficaram do grande terremoto de Lisboa para que com o passar o tempo, que costuma a desbotar as lembranças, não se perdesse o drama do momento.
É neste propósito, o de que é preciso contar para que se deixe registrado, que se situa Aquarentanas, mais novo livro de Celina Bezerra (Infinita Imagem, 2020, 51p.). Um retrato da vida no “novo normal” da pandemia do COVID- 19.
A forma de expressão muito própria e singular da autora se repete neste livro para a alegria dos leitores. Tudo na escrita de Celina nasce e cresce com cores, nuances, sons, cheiros, lembranças. O texto é sempre um bom passeio pela temas que elege com o bom do ensaio e das boas conversas em que tudo cabe.
Não falta a presença da família, o sertão, a natureza que se vê pela janela e pelas ruas, a comida – suas riquezas. Também está lá a situação política capenga do país, o mundo on-line e do delivery. Nada falta neste universo completo de vida.
Tudo entra e sai sem pedir licença e como mais um ponto de um bordado, vai se compondo a narrativa. Celina, como toda sertaneja, sabe que antes de tudo é preciso ser forte. A mensagem, fica o spoiler, é de esperança e vida.
A isso tudo Celina acrescenta um álbum de família com fotos dos seus e reprodução de suas aquarelas pintadas por ela nestes tempos de reclusão social. É preciso que se diga que além de escritora, pedagoga, menina do sítio e cozinheira de mão cheia, Celina Bezerra é também uma pintora de não se botar defeito.
Aquarentanas, como todos os bons livros, que é o bom dos bons livros, é daqueles que a gente acaba leitura e a leitura fica com a gente. Aquarentanas é um retrato vivo dos tempos atuais por quem tem o que dizer e sabe bem dizer.