O livro que não é alheio
Jornal de WM. Woden Madruga, Tribuna do Norte, 29 de novembro de 2018
Gustavo Sobral brinda seus leitores – incluindo os futuros – com um novo livro, já anotado aqui na coluna dias atrás: “As Memórias Alheias”.
Não houve lançamento, mas já tem leitor de nomeada batendo palmas de pé para as histórias ali juntadas (ou seriam inventadas?) por Gustavo, que é cronista com muito talento, mormente quando resolve narrar passeios pelas ruas de Natal (seu livro sobre os bairros de Petrópolis e Tirol).
Esse leitor de nomeada é o escritor Iaperi Araújo, poeta e folclorista, com direito a cadeira na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Ele escreveu este comentário para Gustavo Sobral:
“Li de uma vez só, encantado tanto com as estórias da vida quanto a linguagem absolutamente fiel às narrativas, mas, principalmente, pelo valor que suas histórias concedem ao cotidiano comum das pessoas.
“A arte do conto é muitas vezes confundida com narrativas com começo, meio e fim. Dalton Trevisan, o “Vampiro de Curitiba”, superou-se com seus fragmentos da vida curitibana e, por isso, é um notável contista brasileiro.
“A concisão, o fragmento isolado do contexto, foi de encontro a outros contistas que sempre procuravam criar estórias com começo, meio e fim, dando nome e sobrenome às pessoas e com um motivo principal. Conto é mais do que isso. Da forma como você escreve, o leitor participa, pois, é lhe dado um fragmento de uma estória comum, dessas que a gente convive no dia a dia.
“Da mesma forma, o texto que você domina, concede não somente um roteiro narrativo, mas permite ao leitor interagir com o ambiente e os personagens. Fico feliz com isso.
“Você é um sopro novo na nossa literatura. Sempre admirei sua constância e sua luta pela cultura e fiquei vivamente impressionado pelas suas “Memórias alheias”, tanto que me inspirou a dar continuidade ao meu “Velhos testamentos” que havia começado, mas deixei de lado. Parabéns e obrigado pela sua tão nobre e valorosa cultura”.
Concordo com o dito por Iaperi. Li também de um tacada só o livro de Gustavo, só que poderia ter tido mais páginas, mais histórias, mas memórias. O livro tem apenas 58 páginas, algumas com ilustrações de Ângela Almeida que também enfeitou a capa.
Numa cartinha que me enviou com o livro (que ainda não tem autógrafo) como se fosse uma explicação para o seu livro, Gustavo escreveu:
“Aqui estão memórias que não são minhas, por isso não calhou outro título pra esta reunião de fragmentos do passado. E assim se apresentam: sem ordem, sem explicação, sem índice. Como a memória, as histórias vão aparecendo, retrato de gente, lugares, tempos, cenas, coisa que se passaram, sentimentos que se viveu, pensamentos de outros tempos, e tudo unido forma este veio que é a fugacidade, passagem e perenidade da vida.
As pessoas que aparecem aqui e ali, e só ao final da leitura, se poderá juntar as relações, os graus de parentesco, quem foram, o que fizeram. São meus avós paternos, seus antecedentes, suas famílias, seus parentes, e tudo que encontrei deles que haviam me contado – minha avó quando começou a esquecer, contou-me a história de sua vida para que não se perdesse -, além disso fragmentos de diários, recortes de jornais, documentos, etc.”
Para acessar o livro no formato digital. clique: As memórias alheias.