Um livro de Maria Emília Wanderley
Ela prefere as cigarras, pois considera as formigas falsas moralistas. E sonha. E lembra. E cita Drummond, Bandeira, Quixote, e outras literaturas, sua experiência de vida atrelada à poesia, aos livros e as leituras. E escreve.
É assim, entre sonhos e lembranças, que Maria Emília Wanderley apresenta seu toque de vida no livro Lugares em que ancorei minhas Lembranças, publicação da Lavradio Editoral, em 2023, acompanhada de pinturas de Angela Almeida.
No livro, para além do sonho, o tempo, o espaço, a amizade, e pode ser com um Portinari, aparecem crianças heróis de um mundo feliz e uma ode ao vinho e os seus cinco sentidos, lições da mãe, travessuras de infância e um noivo do Rio de Janeiro para as tias.
O inusitado é uma constante que pode haver numa carona para um assassinato, num amanhecer na praia da Redinha com caça a dentadura, no pássaro azul que fala da emoção dos sonhos e da felicidade e para completar a canção de ninar de Isabel: “para se morrer de amor, basta um soldado”.
Fases de uma vida a que não se pode faltar a família, Berilo, os filhos, o cinema, o diretor Djalma Limongi Batista em Natal, o amor e boemia na calçada, bermuda e uma caneca de vinho e, afinal, porque não há final, é tudo felicidade como um mar bonito parecendo maré de lua cheia.
É que Maria Emília como Danuza (Leão) anda com licença poética na bolsa e conta quase tudo, ou, como Lygia Fagundes Telles, transita, talvez, entre a invenção e a memória. Tudo é possível.
E, assim, bela e lúcida, no Cuxá, entoando canções francesas ao microfone e ao som do piano, que ela tece a vida de quem se lança com a sua maior essência à razão, ao jeito e à alegria de ser quem é. E escreve.