Uma conversa sobre Cenas Natalenses
Gustavo Sobral é jornalista e escritor. Nasceu em Natal, onde vive e espia o mundo. Autor, dentre outros, de “História da Cidade do Natal”, agora aparece com “Cenas Natalenses” (Natal: 8 Editora/ Offset, 2020, 60p., R$ 25,00), seu novo livro, a venda na livraria Cooperativa Cultura (UFRN) e na Flora Cafeteria.
História, memória, literatura, jornalismo, crônica são os caminhos da sua escrita, em qual destas facetas se encontra o seu novo livro?
Cenas Natalenses considero, como todos os meus trabalhos anteriores, um livro inclassificável, mas mesmo assim posso dizer que é um livro que, no mundo em que vivemos, o mundo imperativo da imagem, pretende ser uma coleção de pequenos e breves retratos da cidade em palavra e desenho. Um breve exercício de jornalismo visual, de ver e ouvir a cidade em movimento.
Qual o papel da ilustração neste seu novo trabalho?
É uma forma de expressão. Para que descrever um edifício se posso rabisca-lo? Mas faço um traço apressado, sem retoques, e trago o desenho também a uma condição de protagonismo.
E como, quando e onde, e porque nasceu esta ideia de “rabiscar”?
Sempre gostei dessa coisa de ilustração para livros e queria ilustrações para um livro meu, “Petrópolis”, mas não tinha quem fizesse, eu mesmo arrisquei e saiu. Ai, não deixei mais.
E porque estes lugares (a Fortaleza, o Farol, o Parque das Dunas, etc) e não outros?
A sentença de Cascudo, que usei na epígrafe, me concedeu uma liberdade de escolha: “a cidade do Natal é uma perspectiva indefinida”. Fechei os olhos e pensei: que lugares da cidade caberiam numa cena? Procurei os cartões postais: Ponta Negra, a Fortaleza e o Farol; sai em busca do cotidiano, feira livre e o movimento na Praça do Relógio, a maternidade e o cemitério; e não podia deixar de falar da natureza, e fui em busca da flora do Parque das Dunas.
E que texto é este que você faz para o livro?
Sempre procurei e busco uma escrita em voz alta, ou seja, aquela que preserve um tom de oralidade e um ritmo. Gosto quando as pessoas dizem: é como ouvir você falando! A forma é tão importante quanto é o conteúdo. É tudo uma parte do todo.
Um todo?
O todo que nasce na proposta do livro passa pelo apelo visual e se transforma na junção de tudo isso em um projeto gráfico. Propus o desenho de todo livro, inclusive, a montagem, procurando uma fluidez na expressão do conteúdo e que o resultado fosse simples como aí está.
E por que escrever sobre Natal?
Porque não sei ser de outro lugar. O escritor tem sempre uma forte ligação com a sua cidade, portanto, me volto para Natal nesta perspectiva meio quixotesca que Cascudo tratava por um provincianismo incurável.
Uma espécie de Dom Quixote tropical?
Quem sabe?! (risos). A afirmação de Lygia Fagundes Teles para mim ainda é válida: há três espécies em extinção no Brasil: a árvore, o índio e o escritor.
E o que resta ao escritor, esta espécie em extinção, fazer?
Escrever! Já dizia o poeta Ferreira Gullar a arte, a literatura, a poesia, tudo isso existe, porque a vida não basta. Escrever é a forma certa de não deixar tudo passar e basta.
Confira a versão digital do livro disponível gratuitamente para download no site: Cenas Natalenses.