texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Rua Desembargador Dionisio Filgueira, 763, Petrópolis, Natal/RN. Anos 1960. O ano certo foi ficando nos descaminhos da memória, mas quem sabe lá o calendário preciso da vida quando o que marca são os acontecimentos. Aldo e Martha, casados, foram morar na casa que tinham. A casa foi comprada do pai de Martha, mediante financiamento do IPASE.

Aldo encomendou uma cópia do projeto ao parente e arquiteto pernambucano Wandenkolk Tinoco, aluno dos mestres da moderna arquitetura de Pernambuco. Basta reparar nos detalhes. Dois pavimentos, pilotis, rampa, panos de vidro. É modernista. E assim Martha realizou o sonho da casa própria cercada por uma vizinhança de amigos. Demorou um tanto para ficar habitável, porque Aldo frequentava em São Paulo/SP um curso de saúde pública e a casa exigia despesa para ficar pronta.

Martha acreditava que ia compor a casa vivendo o dia a dia, então vieram 1964 e o golpe… Aldo perseguido, instabilidade, e muitas águas rolaram, tanta coisa que impediu o casal e os cinco filhos de habitarem a casa. Foram para uma vida de vinte anos em casa alugada, primeiro passaram pelo Rio de Janeiro/RJ, depois se estabeleceram em São Paulo/SP, até a aposentadoria e a volta para Natal, para a casa desenhada, sonhada e própria, a primeira.

Alugada todo o tempo em que estiveram fora, inquilinos vários desfrutaram da rua calma, da brisa do mar, que desce a rua enladeirada e faz do mar e do céu vizinhos constantes, e do vento, que sopra para a cidade, um visitante bem-vindo.  E foi se passando o tempo, como corre a vida, e chegou a hora de viver a casa de onde Martha e Aldo, aos 90 anos, nem sonham em sair.

A casa tem painel de azulejo, rampa na frente, que os amigos gozavam, dizendo: “pra Aldo fazer discurso”. Bem frequentada pelos amigos, filhos, netos é a sala ampla, lugar de receber, isso quando estão em casa, porque Aldo passa os dias na fazenda e Marta confessa que é muito solicitada com convites para passeios e eventos. Assim vão aproveitando a casa como nunca antes.