Colégio Imaculada Conceição
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Liceus, escolas, colégios, academias, seja como for que se intitulem os espaços onde a história se construiu pelo ensino, os edifícios se erguem como o símbolo em pedra e cal da matéria do conhecimento. Conventos, monastérios, ordens tomaram para si essa missão. Em Portugal, nas cidades da Espanha, em Roma, a sabedoria se moldou pelos corredores, salas de aulas, pátios, átrios dos colégios religiosos e sob o olhar vigilante de Deus.
Outro não seria o silêncio de um colégio centenário que fecha as portas, registrando para o tempo a sua arquitetura. Corredores vazios, janelas cerradas, cúpulas que arredondam o céu. A casa do saber cerra-se no silêncio do seu fim. Encerradas as atividades, o burburinho, as lições, os alunos, os cadernos, tudo se perde no tempo do passado e só vive na memória das carteiras ocupadas, na exposição dos professores, nos apontamentos na louça.
Resta a luz da tarde que doura as paredes, preenche os pátios e ilumina o espaço casa do saber, onde a construção do conhecimento se forma na lição dos mestres e na compreensão dos alunos, onde desfilaram métodos de ensino, notas, boletins, tempo das aulas e tempo das férias, e assim, sucessivamente, se fizeram, ano a ano, cento e dez anos de ensino e conhecimento ministrado pela abnegação das irmãs Doroteias que para ali se mudaram em 1906, erguendo a escola com dinheiro da venda de um terreno.
Compraram sítio na Av. Deodoro, que daria vida ao colégio construído com a ajuda de doações. Quando derrubada a primeira construção de 1937, fez-se uma segunda, pronta em 1942, e, como um sopro no ar, tudo foi levado pelo vento que fez do espaço o retrato do não ser, cento e dez anos depois. E assim se apaga na Cidade Alta a permanência do que só é construção, estático edifício na indiferença da Av. Deodoro da Fonseca.