Comitiva IHGRN
Discurso do escritor e sócio do IHGRN, Honório de Medeiros, no dia 23 de outubro de 2025, em saudação a André Felipe Pignataro em palestra sobre a Comitiva
Medeiros conta como surgiu a Comitiva, recupera a história, cita Cascudo e apresenta a expedição que ganhou o sertão
Condenado a ser, quando muito, uma nota de rodapé em algum livro embolorado e esquecido nos socavões da história, eis que, graças a um desses acasos surpreendentes, Francisco Otílio Álvares da Silva ressurgiu das cinzas do anonimato, graças à aguçada curiosidade intelectual e espírito perscrutador do escritor Gustavo Sobral.
Pois Sobral, dando-se ao deleite de ler Viajando o Sertão, de Câmara Cascudo, anotou o seguinte comentário que transcrevo fielmente:
Cascudo. Abro Viajando o Sertão. A nota de M. Rodrigues de Melo aponta: a primeira reportagem sobre o sertão do Rio Grande do Norte foi traçada por um tal Francisco Othilio Alvares da Silva e saiu em “O Recreio”.
Decididamente ali estava algo que merecia ser investigado, pressentiu Sobral: “Um documento esquecido e dos contemporâneos não sabido, era preciso pôr a luz, trazer à tona”.
Continuou: “Já escolado desde as priscas eras nos arquivos digitais da biblioteca nacional, corri em busca e foi mais fácil do que esperava, (mas) constatei que a coleção dos jornais estava incompleta (…)”.
Gustavo Sobral dividiu conosco sua descoberta, e em algum momento, uma faísca lançada por André Pignataro pôs fogo no paiol: “e por que não refazemos a viagem?”.
A ideia cresceu e nos absorveu.
Um belo dia, após muita conversa e mudanças alusivas ao “como fazer”, batemos o martelo.
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) prontamente formalizou seu apoio, agregamos Bárbara Michaela Ferreira Lima como fotógrafa ad-hoc e caímos na estrada.
Cabe a pergunta: qual a importância de uma Expedição desse tipo ao Sertão, tanto tempo depois?
Acompanhando a perspectiva da viagem de Leão Veloso, na medida do possível, fazermos uma comparação, mesmo que tênue, entre o que foi descrito por Otílio, e o que encontramos.
E o que esperávamos encontrar? Os vestígios do passado. A sensação do compartilhamento imaginário. A alegria do ineditismo. O prazer do conhecimento.
Houve tudo isso e muito mais.
Houve o fortalecimento de laços imperecíveis entre amigos que se uniram em torno de uma curiosidade comum, que depois suscitaria livros organizados a partir de temas de natureza histórica, hoje à disposição dos muitos interessados, diga-se de passagem, tais quais Governo do Rio Grande do Norte, 2022, e Historiadores do Rio Grande do Norte, 2025.
Voltemos ao tema: Leão Veloso e Otílio Álvares são os dois personagens fundamentais desta e nesta história.
O primeiro, por ser a causa da expedição; o segundo por ter escrito um diário de viagem, publicado no jornal O Recreio, no qual ficou registrado suas muito pessoais experiências vividas durante todo o percurso, e que se constitui na única fonte sólida alusiva ao dia-a-dia da Expedição Leão Veloso pelo Rio Grande do Norte, em 1861.
Cento e sessenta e dois anos após, no ano da graça de 2023, André Felipe Pignataro, Gustavo Sobral, Honório de Medeiros, e a fotógrafa ad-hoc Bárbara Michaela Ferreira Lima, fizeram o mesmo percurso da Expedição Leão Veloso de 1861, sob os auspícios do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).
O difícil foi tirar Leão Veloso, e tudo que lhe diz respeito no Rio Grande do Norte, do limbo da história.
Não se cogita que tenhamos conseguido. Mesmo assim, apesar do pouco que alcançamos, não é possível esquecer a ousadia de sua Expedição, a primeira do gênero no Estado, que seria repetida, depois, setenta e três anos depois, entre 16 a 29 de maio de 1934, pelo Interventor Federal Mário Câmara.
Quanto a nossa Expedição, passo a palavra a André Pignataro, o grande timoneiro, que nos premiará com uma palestra muito mais apropriada, para descrever, na medida do possível e do impossível, o que vivemos na nossa aventura, construída a partir do seu rigor de sua reconhecida qualidade de pesquisador e estudioso.
Então, finalizando, aos meus companheiros, dentre os quais nossa notável fotógrafa oficial e seu apurado senso estético, manifesto minha gratidão pelo privilégio afetuoso de suas companhias.
Obrigado.
Honório de Medeiros.
Natal, 22 de outubro de 2025.
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