Lajedo de Soledade

texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Quando o homem passou a cultivar a terra, resolveu se fixar para esperar a colheita. Pousado em um sítio, procurou abrigo para os seus dias, que seriam de permanência, nascendo assim a casa como a sua fixação no mundo. Não sendo desenho das suas mãos nem proposta do seu engenho, a casa nasceu, assim como o homem, da natureza. Para pousar na terra, o homem deveria viver nela e a sua primeira casa foi a pedra.

Abrigado nos seus vãos, expulsou os antigos moradores, animais selvagens. Resquícios do tempo pré-histórico, pinturas registram sua presença. A primeira casa de pedra tinha por serviço um rio próximo. Pairam muitas lacunas sobre os viventes e a casa de pedra, sobram lendas, mistérios, firmam-se estudos técnicos e científicos.

Era uma casa artisticamente decorada pelos seus primeiros moradores, que as suas paredes pintaram de vermelho, preto e amarelo. Na planta baixa, anota-se: pavimento cárstico recortado por um singular sistema de ravinas, desenvolvido sobre o mais amplo afloramento carbonático, pertencente à seção inferior da Formação Jandaíra. Sítio arqueológico, a casa de pedra toma o nome de Lajedo de Soledade, Apodi/RN.

Sua matéria-prima é o calcário. Os tempos históricos atestam que um mar raso conservou todo o passado submerso. O seu abrigo é fruto do trabalho da erosão; sua construtora concebeu fendas e, assim, abrigo para os seus moradores, que a desenharam para melhor provê-la. Noventa milhões de anos que se espraiam por três quilômetros de extensão, laje acinzentada e que esconde ao fundo um fio de água que corre e se cerca de um jardim árido de cactos, arbustos e clima seco.

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Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br