O Teatro Amazonas e a visita de Saul Steinberg
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Viajou pelo Brasil em 1952. Subiu de barco o Amazonas e se impressionou com um homem que levava uma tartaruga viva como quem carregava uma maleta. Rabiscou arara, tartaruga, pássaros, um ônibus. Fez fotos e não perdeu de vista o Teatro Amazonas, em Manaus/AM, presença naquela paisagem como todo o resto, casas flutuantes e barcaças, que são hotéis sobre as águas.
Saul Steinberg, ilustrador, desenhista, visitava o Brasil e encontrava um mundo novo por aonde ia passando. Do teatro, deve ter sabido que foi desenhado para ser casa de ópera, inaugurada com muito brilho e fausto em 1886, na Praça do Congresso s/n. Dizem que não só sua arquitetura é renascentista, como também a sua proposta. Nasceu na ribeirinha da belle époque dos espetáculos e encenação, num dos auges da borracha, tempo de fama e riqueza.
A cúpula inconfundível é sua marca visual. A arquitetura se criou pela mistura artística de suas fachadas. Feita com cerâmica esmaltada, telhas vitrificadas, coisas importadas. O colorido original mostra verde, azul e amarelo; é a bandeira brasileira. O projeto é do Gabinete Português de Engenharia e Arquitetura de Lisboa. Tudo mais veio da Europa, dos arquitetos, aos escultores, pintores e até construtores.
O salão nobre ficou para o artista italiano Domenico de Angelis. A sala de espetáculos do teatro é para setecentas e uma pessoas, distribuídas entre a plateia e os três andares de camarotes. Destacam-se os ornamentos sobre as colunas do pavimento térreo, homenagem a Moliére, Rossini, Mozart, Verdi e Villa-Lobos, maestro soberano brasileiro. Lustre dourado, cristais de Veneza, pura admiração de quem olha.