Angela Almeida e a melhor foto

Gustavo Sobral entrevista a fotógrafa Angela Almeida

Ela andou pelo sertão, e descobriu uma estética própria, em que o ocre, o colorido da chita, em que tudo se mistura. Ela fotografou a obra de Newton Navarro, e fez um álbum lindo. Ela é fotografa e é disso que ela fala aqui. Só não diz o que esqueci de perguntar…

GS: O que é uma fotografia?

AA: Uma ficção que muitas vezes procura se mostrar verdadeira.

GS: Quem fotografa, fotografa o que?

AA: Narrativas de vida, natureza e seus objetos.

GS: Por que você fotografa?

AA.: Para preencher meus vazios, como um discurso artístico.

GS: O que jamais fotografaria?

AA:  Talvez a sordidez de qualquer subcultura urbana.

GS:  O que falta à fotografia?

AA: O tempo. A fotografia capta um instante. O tempo que se observa um rosto nunca está na fotografia. Como diz John Berger que uma fotografia é estática porque parou o tempo. Um desenho ou uma pintura é estático porque abarcou o tempo. É o que uma foto não consegue fazer.

GS: Quem precisa ser fotografado?

AA: Como a fotografia não só reflete contextos, mas pode criar representações, teorias e realidades, tudo pode ser fotografado ou precisa ser fotografado.

GS: A imagem é…

AA: As imagens técnicas são como bem escreveu Vilém Flusser, superfícies construídas com pontos, que podem ser mapas míticos do mundo.

GS: O que você vê atrás das lentes?

AA: O que os olhos estão vendo adiante dentro do recorte da câmara e o que a alma chama.

GS: A melhor foto é…

AA: A que consola.

GS: O que é preciso para fazer uma boa foto?

AA: Acredito que muito mais que um exercício técnico é preencher a fotografia de uma poética que emocione o outro.

GS: O que é mais difícil de fotografar?

AA: A dor do outro. Até porque você fotografa como entende.

GS: Por que a (escolha da) fotografia?

AA: Não fotografo apenas para documentar, registrar, sem um propósito. Há uma necessidade, um prazer, uma vontade de dizer algo, antes de tudo.

GS: Uma imagem vale mesmo mais que 1000 palavras?

AA: Não, ela mente tanto quanto as palavras.

GS: O que você aprendeu com tudo isto?

AA: Como assim? De toda forma tomando emprestada as palavras de Picasso: “Eu não procuro, eu encontro”. Ou estou sempre procurando aprender.

GS: Fotografia é lembrança?

AA: Ela já nasce memória.

GS: Preto e branco ou colorido?

AA: Os dois.

GS: Você revela?

AA: Entrei na fotografia pela porta digital.

GS: Quem é Angela Almeida por Angela Almeida?

AA: Uma tentativa sempre. Procuro não bater o carimbo nas verdades únicas, como diz a poeta Wislawa Szymborska.

GS: O que você esqueceu de dizer?

AA: O que você esqueceu de perguntar, rsrrs.

Compartilhe Essa História:

Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br