Emanoel Barreto diretamente da tribuna da palavra

Gustavo Sobral entrevista o repórter Emanoel Barreto

Foto por Thayane Guimarães

Ele começou na grande escola (a maior de todas do jornalismo): a página policial. Tribuna, Diário, foi repórter e escreveu crônicas. Notadamente, um filósofo do jornalismo, a sua tribuna consagrada é a palavra. Aqui, conta a que veio, da notícia perfeita ao futuro do jornalismo.

GS: A notícia perfeita é…

EB: Aquela redigida com urgência, persistência, decisão. Acima de tudo, a notícia perfeita sempre exige coragem.

GS: Jornalismo é verdade?

EB: Nem sempre. Mas a verdade sempre será jornalismo.

GS: Para onde vão os jornais?

EB: Às vezes para as páginas vergonhosas da História. Às vezes para o sol de um novo tempo. Se e quando o jornal ajuda a construir esse novo tempo.

GS: É sempre ler para crer?

EB: Nem sempre. Talvez seja melhor ler para desconfiar.

GS: O que nunca foi notícia?

EB: A notícia de que a verdade – qualquer verdade – deixou de ser notícia.

GS: Um repórter precisa ter…

EB: Caráter, firmeza; um bom texto e, por que não?, um bom boteco na esquina.

GS: O que é dito em off fica em off?

EB: Officialmente fica. Mas pode ser que a vaidade do repórter offusque o off e ele offereça a informação ao editor para virar manchete.

GS: O melhor lead é…

EB: Feito de fatos bem apurados e de talento no texto.

GS: Mas o que é o lead?

EB: É o primeiro parágrafo que pode atiçar a confusão ou aplainar o caminho. O principal componente do lead chama-se caráter.

GS: Você já usou nariz de cera?

EB: Nem mesmo em carnaval.

GS: A pauta é…

EB: O grito das ruas chamando o repórter a ouvir a confusão do mundo.

GS: Quem é o repórter?

EB: É o sujeito que não deveria se assujeitar ao dinheiro sujo, ao ditador, ao inspetor de quarteirão.

GS: Uma notícia que não se deve dá?

EB: Aquela onde haja dúvida ou seja alcoviteira da má intenção.

GS: O que merece notícia?

EB: Deve-se noticiar o fato que seja belo e o gemido do povo; o voo da abelha e o correr do riacho; o estampido das injustiças e os silêncios tenebrosos.

GS: Qual a sua opinião?

EB: Minha opinião está no editorial do meu cotidiano. Em longos 41 anos de jornalismo. Na verdade, minha opinião está no jornal dos meus 65 anos, reeditado a cada dia.

GS: Quem deve ler jornal?

EB: Os jornalistas deveriam ler mais jornais.

GS: Quem é o Barreto repórter  por Barreto repórter?

EB: Bar-reto é um repórter que surgiu do chão, do barro fértil das redações e sempre procurou ser reto. Daí, Barreto.

GS: O maior furo é aquele que…

EB: O maior furo pode nascer da investigação ou do acaso. Mas o maior furo é viver o jornalismo com a furiosa decisão de ser sempre sereno ao escrever.

GS: Um conselho para um jovem repórter?

EB: Fuja dos maus conselheiros.

GS: Você acredita em jornal?

EB: Acredito em jornalistas.

GS: Jornalismo tem futuro?

EB: Tem. Incerto e não sabido, mas tem. Pode confiar.

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Gustavo Sobral

Sobre o autor: Gustavo Sobral

Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve, rabisca e publica está disponível no seu site pessoal gustavosobral.com.br