Instituto Pró-Memória de Macaíba
Macaíba, 17 de setembro de 2020.
O sol já ia alto e ventava em setembro como se ainda fosse agosto. Na entrada da cidade, obras na estrada, e o busto de Augusto Severo, impávido, como se estivesse como o aviador a ver o mundo de um balão, indiferente às mudanças. A cidade caminhava um dia de semana, o comércio agitado, no centro. A fachada da igrejinha e o prédio da prefeitura restavam como uma lembrança do passado até que, mais adiante, no fim de uma rua sem fim, uma pequena casa sem azulejo na fachada, portão de alumino ou vidraças, recebia o vento e a luz da manhã de sol.
À sombra da buganvília, a casa parava o tempo como no tempo que só ela existia e tudo aquilo era um descampado. A casa restou como coisa de dois séculos passados. A data está presente: 1856. É o Solar Caxangá, Instituto Pró-Memória de Macaíba. As paredes, as portas, os vãos, os caibros, nada mudou e a casa está lá, e como tudo que fica no tempo exigiu os reparos necessários e o acompanhamento do arquiteto Ubirajara Galvão que, incrédulo, orientava o processo de recuperação e restauração, nos conta Olimpio Maciel, da porta, o homem que fez da casa um instituto e do instituto um memorial do Rio Grande do Norte.
É o Rio Grande do Norte e a sua Macaíba no retrato das velhas figuras, em bustos, no mobiliário que conta não só outros tempos, mas outros usos nos objetos de ontem como uma carteira escolar, um gramofone, uma máquina fotográfica, e tantas outras peças, sem contar os livros. Tudo parece imóvel, indistinguível, estático, mas tudo ganha vida quando Olímpio Maciel deita um olhar sobre uma peça ou é indagado acerca disto ou daquilo que ali está. Então, os retratos ganham nome, lugar, data, as famílias recuperam os seus parentescos, os artistas revivem em suas obras, tudo ganha vida.
O instituto de Olimpio Maciel é um projeto inovador, pioneiro, único, de um homem que, não só como médico radiologista, salvou vidas ao diagnosticar os seus pacientes, mas que fez para Macaíba e para o Rio Grande do Norte o que cada município deveria ter, um santuário da sua vida cultural, das suas figuras, dos seus artistas, dos seus nomes, um espaço dedicado ao passado. E, assim, o médico, no seu silencioso oficio de colecionador, construiu a sua obra. Salvou durante toda a sua vida a memória e a cultura do Rio Grande do Norte que hoje ele reúne no seu acervo e apresenta no seu museu. Um gesto que deveria não só ser copiado a torto e a direito mas que também deveria ser tombado como patrimônio cultural.
Para mais informações, navegue: http://www.institutojosejorgemaciel.org.br/