Para Adélia Prado
Oitenta anos da poeta de Divinópolis, 2016. Drummond leu seus poemas e reconheceu: ela chegava “com licença poética” e já se vão mil anos e hoje além dos oitenta são diversos livros de poesia e prosa. Leitor e admirador de sua poesia, com vontade de conhecer Divinópolis (é Minas Gerais) e tomar um café com Adélia, escrevi à agência Riff que encaminhou a carta email que segue.
Adélia recebeu e desde então está para responder…
Está carta é a primeira de uma série inédita.
Natal/RN, 29 de abril de 2016
Para Adélia Luzia Prado Freitas, poeta e escritora Adélia Prado
Dona Adélia,
(Vá perdoando o dona, se não lhe agrada, é o respeito e o jeito da gente aqui do Nordeste dizer) pois Dona Adélia, Adélia só (nem sei como o povo lhe trata, e já era coisa tivesse no tête-à-tête já ia perguntar de começo) tomo o caminho de lhe escrever e vou fazendo quando termino poesia reunida, a edição que veio com o aniversário, ja tinha corrido pela prosa, também na edição reunida, e ficou como quem na mesa, depois do almoço de domingo com a família, espera o café passar e fica na conversa e indaga as coisas da vida, por exemplo, a gente fala dos nossos, um avô que se teve, um tio que migrou pra melhorar de vida (é assim aqui em casa), dor de dente, tudo. E com este gosto de conversa era que, ao juntar um punhado de sentimento que fui catando em seus versos, num pedaço da sua prosa, que sem o propósito, como a gente chama no jornalismo (nem lhe disse, sou formado em jornalismo e escrevo, ler ja sabe que leio, leio Adélia, Drummond, Bandeira…) ser aquela coisa do pingue-pongue: em que ano nasceu? 35. E onde? Divinópolis; nem é saber coisa que li num bocado de canto ( assisti e li diversas entrevistas suas que estão por ai), o nasceu, viveu escreveu.
O propósito, dona Adélia, Adélia só, se preferir, é conversar, quando a gente conversa a gente se diz, é milagre da revelação, pois eu queria deitar uns dedos dessa boa prosa pois como pessoa que sou, e como jornalista, eu gosto de conversar pra saber aquilo que depois de tudo que li, me ficou e não sei, não achei e curioso ( desde menino, viu, e não deixo) gostaria de assuntar. Ai, ai que me perdoe, nem conheço Minas, ia bater ai ( que nem vi que Edney Silvestre foi, eu assisti na GloboNews quando nem sonhava em escrever pra dona Lúcia, que foi simpática comigo, e foi desde antes, quando eu inventei de pedir a ela pra ler no arquivo de Drummond, as cartas de Zila Mamede, poeta aqui do Rio Grande do Norte, que também foi amiga do Itabirano), pois sim, dona Lucia me recebeu por imeio, generosa e simpática, o melhor de ler a gente acha nas entrelinhas, é o sentimento que passa alem do que esta escrito, foi assim dona Lucia; pois é isso, é um pedido meu pra ir ai conversar como um pedido de entrevista, pois a conversa vai virar escrito, a ideia é ser publicada. Quero saber se me receberia, sem cerimonia, sem pretensão ou pompa, só pra uma conversa.
O combinado é sair aqui de Natal com rumo pra ai, com um tempo espaçado se for possível, pra conversar com sossego, um encontro, ou dois, ou três, conversa é coisa que não se mede de régua, e também que só acontece se a gente se entender, e se se entender, nem vou falar nesse dois ou três, essas coisas são da ordem do indizível, nasce quando há empatia, e vou também pra conhecer a sua Divinópolis, abraçar a cidade como quem reconhece alguma coisa que sabe porque leu e nunca viu, sentir a cidade, quando ela nasce de manhã, a cor que tem o dia, como fica à tarde quando o sol se vai, como anda o povo na rua, como se desenha o casario, e conquistar um pouco de tudo isso, não se acanhe comigo, sou rapaz sossegado, simples, filho, neto, nascido e criado aqui mesmo em Natal (de onde escrevo e avisto o mundo). Pois me avise se aceita que arrumo aqui uma malinha, a gente acertando a data, levo até uma castanha de caju (gosta? ou um biscoitinho de sequilho, grude, alfenim) a gente sempre quando sai leva um agrado, arrumo um hotelzinho pra pousar os dias, passo uns cinco?, vamos conversar e ando Divinópolis, depois escrevo o que aconteceu no estilo que aprumo, faço ensaio, e torno em palavra, depois, o que a gente achou de dizer, ver, viver e sentir nestes dias e na prosa que se instalar.
Nem fui breve, mas já dizia Tom (Jobim) que longa é a tarde e breve (tão) é vida (perdoe os parênteses também é um jeito de falar pelos cotovelos), fico aqui no aguardo de uma resposta. E vou, se atrevido, perdoe também (escrevo com pecados) terminar como Mario de Andrade em carta pro meu conterrâneo Câmara Cascudo: pois um beijo no rosto se a cara estiver limpa,
um abraço meu,
Gustavo
Post-scriptum
Gustavo,
sua carta é um conto quase – tá uma beleza! eu adorei, e acho que a Adélia vai adorar também. Tomara!
estou mandando agorinha, ok?
torcendo para que a resposta não demore.
abraço amigo da
Lucia