A guardadora de livros
São Paulo/SP, 13 de agosto de 2015. Biblioteca Guita e José Mindlin, Universidade de São Paulo. Diante daquele monumento de livros, raros, únicos, totalmente voltados às coisas brasileiras, na porta, acolhedora, generosa e gentil: Cristina Antunes me recebe. Convida-me a um passeio pela biblioteca que foi o último sonho de Mindlin e que sempre foi e continua acessível a pesquisadores de todo o mundo. Livros e mais livros, salas e mais salas, a biblioteca é um centro de pesquisa. E o que eu fazia ali? Ia atrás de Zila Mamede. A correspondência da poeta Zila Mamede para o ensaio que pretendia escrever. E Cristina me oferta não só o arquivo Zila, mas também o arquivo Mindlin com as cartas, fotografias, bilhetes e tudo mais que ela enviara ao amigo. Zila frequentou a biblioteca quando os livros ainda residiam na casa do bibliófilo para realizar o trabalho magistral da bibliografia de João Cabral de Melo Neto. Cristina a conheceu, me falou das suas lembranças, das visitas de Zila, me contou histórias da biblioteca de Mindlin e, assim, passei uma tarde agradável entre livros e numa conversa generosa, gratuita e amiga com Cristina. É tamanha a surpresa quando abro o Publishnews pela manhã e vejo o “Adeus à guardadora de livros”. Cristina partiu aos 68 anos de idade. Naquele 13 de agosto, ela não só veio me receber à porta, como quem abre a porta de sua casa, mas também fez questão de me levar até a porta na saída. Eu agradeci. Ela sorriu e disse: “não há de que, quando vier a São Paulo, venha nos visitar!”. E só retornou à biblioteca quando me viu ao longe e acenou na última despedida.